domingo, 30 de outubro de 2011

Aspirina anticorrupção: eleição bancada pelos eleitores

Existe um jeito extremamente simples para se acabar com metade dos escândalos de corrupção nas várias esferas do poder no Brasil: o financiamento público das campanhas eleitorais.
É tão simples e eficaz como uma aspirina.
É a forma mais civilizada e mais segura de se realizar uma eleição com transparência. Não por acaso, nações européias de primeiro time, como a França e a Inglaterra, adotam o sistema.
Aí, o eleitor vai estrilar: mas vão meter a mão no meu bolso para, ainda por cima, eleger um bando de corruptos?
A questão é que à luz de normas claras para a campanha é que se acaba com a escuridão das, aí sim, grandes maracutaias.
Explico melhor:
O episódio recente no Ministério da Educação é sintomático. O escândalo no qual envolveram o ministro Orlando Silva – com direito à mentirosa, fantasiosa versão de mala de dinheiro recebida por ele, em pessoa, na garagem do Ministério, versão que a Veja espalhou e depois não teve a honestidade de desmentir – tem nome e sobrenome: caixa 2 de campanha.


Partidos políticos aderem à base governista e brigam para se encaixarem nos principais postos da administração porque ali fica mais fácil – via ONGs, no caso do Esporte – amealhar um dinheirinho para a próxima eleição.
Todos – repito, todos – os partidos fazem isso, inclusive os que esgoelam contra “a corrupção”. É pura hipocrisia. Nas administrações municipais, você pode fazer isso através das notórias caixinhas das empresas de transporte público e de lixo: nas administrações estaduais, o setor de energia costuma ser o mais magnânimo.
Então, se é tão simples, por que não se faz?
Porque a sólidos setores da política e da própria sociedade – insuflada pela mídia predadora que se alimenta da podridão das denúncias – não interessa resolver, com uma simples aspirina, a permanente dor de cabeça nacional.
Há partidos que aceitam: há partidos que nem querem ouvir falar.
Eleitores pagando os custos da eleição – e não interesses escusos dos lobbies não declarados infiltrando-se sorrateiramente nos subterrâneas das campanhas. Isso reduziria as frequentemente fabulosas cifras de uma campanha, aumentaria o controle social e até judicial sobre as lambanças e a gente conseguiria sanitizar do noticiário essa nefanda figura dos delatores profissionais premiados pela deduragem e tratados como cidadão de bem.
Acabaria de vez com o caixa 2? Não totalmente. Mas seria um progresso considerável.
Tem mais. Financiamento público de campanha funciona como sessão de psicanálise: já que você vai pagar a conta vai se sentir mais responsável pelo seu próprio tratamento.
Ou seja, o eleitor vai respeitar mais o seu próprio voto e desistirá de brincar com ele (o voto Cacareco, o voto Enéas, o voto Tiririca).


É bom  lembrar: nós eleitores é que tememos escolhido aqueles que no dia seguinte à eleição nós já passamos a chamar de corruptos.
Outra coisa que me intriga muito neste país que vai se tornar a sexta economia do mundo até o final deste ano e que, na política, se comporta como se fosse a sexagésima: denuncia-se tanto os corruptos e nunca se interessa em saber quem são os corruptores.

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