São Paulo (AE) - Um dia depois de ir à TV para explicar o aumento expressivo de seu patrimônio, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, é alvo de nova denúncia de negócio suspeito. Reportagem na edição desta semana da revista Veja revela que os proprietários do apartamento, avaliado em R$ 4 milhões, alugado por Palocci no bairro de Moema, em São Paulo, são "laranjas". De acordo com a revista, o apartamento pertence à Lion Franquia e Participações Ltda. e está registrado no 14º Ofício de Registro de Imóveis de São Paulo em nome de dois sócios: Dayvini Costa Nunes, que tem 99,5% das cotas, e Filipe Garcia dos Santos, com o restante (0,5%). Filipe tem 17 anos e só foi emancipado no ano passado. O sócio majoritário, de 23 anos, é um representante comercial que mora nos fundos de um casa na periferia de Mauá, cidade do ABC. Ele trabalhou na prefeitura da cidade, que é governada por Oswaldo Dias (PT).
Antônio Cruz/abrSituação do ministro Palocci se agrava e já se falam em nomes para substituí-lo no gabinete civil Em entrevista à revista, Dayvini Costa Nunes admitiu que é laranja, explicando que fez isso para ajudar parentes. "Esse problema envolve pessoas com quem eu não tenho como brigar. Não tenho como bater de frente com Palocci", disse Dayvini à Veja, na última sexta-feira, ao telefonar para a revista para mudar a versão dada no dia anterior, quando mostrou-se surpreso com a informação de que seria um dos donos do apartamento.
Segundo a revista, a Lion usou endereços falsos em suas operações nos últimos três anos. A Lion diz ter recebido o apartamento de Gesmo Siqueira dos Santos, tio de Nunes. Ele responde a 35 processos por fraudes em documentos, adulteração de combustível e sonegação fiscal. Um empregada doméstica na casa dele, Rosailde Laranjeira da Silva, também foi usada como laranja em outras quatro empresas abertas por Siqueira Santos. Filipe Garcia dos Santos forneceu ao cartório um endereço fictício no Paraná. A sede formal da Lion fica na cidade de Salto, a 100 km de São Paulo.
O ministro Palocci é o centro de uma crise que estourou há 20 dias, quando foi divulgado que ele havia comprado um apartamento de 500 metros quadrados, avaliado em R$ 6,6 milhões, e uma sala comercial, avaliada em R$ 882,5 mil. Além disso, sua empresa, a Projeto, faturou R$ 20 milhões só em 2010.
Em nota divulgada neste sábado, a assessoria de Palocci informa que o contrato de aluguel do apartamento foi firmado entre o ministro e os proprietários Gesmo Siqueira dos Santos, sua mulher, Elisabeth Costa Garcia, e a Morumbi Administradora de Imóveis. Ainda segundo a nota, Palocci e sua família nunca tiveram contato com os donos, "tendo sempre tratado as questões relativas ao imóvel com a imobiliária responsável indicada pelos proprietários." "O ministro, assim como qualquer outro locatário, não pode ser responsabilizado por atos ou antecedentes do seu locador", conclui a nota.
O imóvel onde reside o ministro e pelo qual ele paga aluguel tem 640 metros quadrados, varandas, quatro suítes, três salas, duas lareiras e churrasqueira. A revista informa que o condomínio chega a R$ 4.600,00 e o IPTU é de R$ 2.300 por mês. Imobiliárias da região dizem que um aluguel no local custa em torno de R$ 15 mil mensais.
Crise paralisa planos do governo Dilma
Brasília (AE) - A falta de ação da presidente Dilma Rousseff e a crise política causada pela revelação do súbito enriquecimento do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, causaram uma paralisia no governo. Projetos importantes, como o Plano de Desenvolvimento Produtivo, anunciado em janeiro pelo ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, ainda não saíram do papel. Esse plano, conhecido por PDP2, foi anunciado logo depois da posse de Dilma, no dia 1º de janeiro.
O projeto tem como objetivo principal aumentar a competitividade da indústria e prevê medidas para a desoneração de investimentos que precisam de aval do Congresso - o que demandará mais tempo, porque exigirá uma tramitação longa, sem falar no enfrentamento de protestos de oposição e negociações entre os aliados até o texto ser aprovado no Legislativo.
De acordo com a assessoria do ministro Fernando Pimentel, a demora se deve a uma decisão do governo de ampliar o plano. A informação é de que talvez seja enviado ao Congresso neste mês. Mas nem o novo nome é certo. Por enquanto, provisoriamente, fala-se em Política de Desenvolvimento da Competitividade (PDC).
O PDC - ou qualquer outro nome que lhe for dado, visto que esse mais parece sigla de partido que projeto do Executivo - passará a ser mais ambicioso do que o PDP2, porque abrangerá a política de desenvolvimento do comércio exterior, de competitividade industrial e de concessão e serviços. A ideia é reduzir impostos para garantir investimento. Antes o governo quer saber como estão os passos da China nas exportações.
Advogado contesta denúncia
Brasília(AE) - O advogado José Roberto Batochio, que defende Antonio Palocci afirmou que a notícia da revista Veja sobre o apartamento alugado pelo ministro, em São Paulo, é "uma temeridade" e "um despropósito", por atribuir ao inquilino responsabilidades que deveriam ser cobradas da administradora responsável pela locação do imóvel. Batochio comparou a situação de seu cliente à de um consumidor em relação ao dono do armazém onde ele faz suas compras. "Você não pode ser responsável pelos antecedentes do dono da mercearia onde adquire seus produtos de necessidade básica", afirmou. "Eu acho essa matéria um despropósito. Com todo respeito ao autor da matéria, não tem o menor sentido".
O advogado reconheceu, entretanto, que a situação poderia ser esclarecida pelo aprofundamento das apurações sobre a ligação dos laranjas Dayvini Costa Nunes e Felipe Garcia dos Santos com a imobiliária que aluga o imóvel. Mas lembra que essa iniciativa não pode ser atribuída a Palocci. "Se bem que isso não é um problema que diz respeito ao ministro, diz respeito aos proprietários", observa.
Temer comenta entrevista de Palocci
São Paulo (AE) - O vice-presidente da República, Michel Temer, classificou como satisfatória e convincente a entrevista que o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, concedeu sexta-feira à TV Globo, rompendo o silêncio após 20 dias de crise gerada sobre sua rápida evolução patrimonial. "Ele veio a público dizer o que tinha de dizer, acho que foi muito convincente e teve muita lealdade profissional com seus clientes e com aqueles que serviu", disse Temer, numa referência ao fato de Palocci não ter revelado o nome de seus clientes e os valores recebidos, durante entrevista.
Temer, que também é presidente licenciado do PMDB, disse que as explicações do ministro-chefe da Casa Civil, foram suficientes. "Considerei útil as explicações que deu à TV (Globo) e a jornais (entrevista exclusiva que concedeu à Folha de S. Paulo)", disse, na manhã de ontem, na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde participou de campanha de filiação do PMDB. Dentre os novos filiados, está o deputado federal Gabriel Chalita.
Questionado se o ministro Palocci permanece à frente da Casa Civil, Michel Temer tergiversou: "A presidenta Dilma dispõe de todos os cargos e não devo ser eu a dizer o que deve ser feito." Em seguida, emendou: "Não sei se há possibilidade de troca, sei que a presidente tem muita confiança nele. Confiamos no desempenho dele e nos princípios administrativos que ele tem', disse.