PSD é feito por pessoas que não têm uma história"
Publicação: 27 de Dezembro de 2011 às 00:00
Depois de enfrentar uma das maiores crises de sua história, com a perda de correligionários para o recém-criado PSD do prefeito Gilberto Kassab, a direção do Democratas (DEM) pretende recuperar espaço nas eleições municipais de 2012 e se fortalecer para a disputa de 2014, incluindo até a hipótese de um voo solo para a sucessão presidencial. Apenas em 2011, o DEM perdeu 17 deputados federais de um total de 43, um senador de um total de seis parlamentares e um governador de um total de dois, além de prefeitos, vereadores e deputados estaduais, a maioria para o PSD. Em entrevista exclusiva aos jornalistas Daiene Cardoso e Gustavo Uribe, da Agência Estado, o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do DEM, diz que a perda de quadros foi numérica e não de essência, e que o apoio do DEM a um candidato tucano na sucessão presidencial "não é compulsório". O dirigente do DEM não poupou críticas ao tucanato que, em sua opinião, "está precisando se reencontrar". Ele também não economizou estocadas ao PSD que, embora não seja considerado por ele o "inimigo preferencial" do DEM, é visto como um partido "sem história". No Rio Grande do Norte, o PSD é presidido pelo vice-governador Robinson Faria, que rompeu politicamente com Rosalba Ciarlini, a única filiada ao DEM com mandato de governador. "Eles para lá e nós pra cá", decreta Agripino ao responder sobre como é a relação politica com o PSD. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
José Agripino, senador e presidente nacional do DEM.
O surgimento do PSD, em 2011, foi o golpe mais duro já dado contra o DEM?
Eu não diria que tenha sido o golpe mais duro. Ele foi um golpe que nos atingiu numericamente, mas não na nossa essência. As figuras emblemáticas do partido ficaram todas. O partido perdeu aqueles que fizeram uma clara opção pelo seu interesse pessoal. Os que tinham consciência partidária, aqueles que guardam a história do partido, esses ficaram todos.
O senhor assumiu o comando do DEM em meio a uma crise interna sem precedentes. Algo poderia ter sido feito para evitar essa debandada?
Eu poderia ter feito alguma coisa se eu concordasse com a desfiguração do partido. Em um dado momento, ficou claro que não haveria perda numérica se nos anexássemos a uma outra agremiação ou se mudássemos a orientação do partido. Isso aí nem eu, nem os que ficaram, concordavam.
O surgimento do PSD, em 2011, foi o golpe mais duro já dado contra o DEM?
Eu não diria que tenha sido o golpe mais duro. Ele foi um golpe que nos atingiu numericamente, mas não na nossa essência. As figuras emblemáticas do partido ficaram todas. O partido perdeu aqueles que fizeram uma clara opção pelo seu interesse pessoal. Os que tinham consciência partidária, aqueles que guardam a história do partido, esses ficaram todos.
O senhor assumiu o comando do DEM em meio a uma crise interna sem precedentes. Algo poderia ter sido feito para evitar essa debandada?
Eu poderia ter feito alguma coisa se eu concordasse com a desfiguração do partido. Em um dado momento, ficou claro que não haveria perda numérica se nos anexássemos a uma outra agremiação ou se mudássemos a orientação do partido. Isso aí nem eu, nem os que ficaram, concordavam.
Durante a crise, alguns sugeriram que o DEM poderia ser incorporado ao PSDB. Essa possibilidade ainda existe?
Essa hipótese não está nas nossas conjecturas. O DEM é um partido que, se perdeu as eleições, a ele está reservado o papel de oposição. A democracia é governo e oposição. Se você zerar a oposição, a democracia brasileira fica como a venezuelana, que passou muito tempo como uma nação de um partido de um lado só. A hipótese de fusão com o PSDB está fora da ordem do dia do DEM.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que o PSDB perdeu, até certo ponto, o rumo. O senhor pensa da mesma maneira?
Não acho que o PSDB esteja sem rumo, ele está precisando se reencontrar. O PSDB é outro partido que, como nós, tem história. O que é preciso é o partido se reencontrar com sua história. O PSDB tem de se reencontrar com a formulação programática que deu os ganhos que o Brasil teve com o governo Fernando Henrique Cardoso/Marco Maciel.
Essa hipótese não está nas nossas conjecturas. O DEM é um partido que, se perdeu as eleições, a ele está reservado o papel de oposição. A democracia é governo e oposição. Se você zerar a oposição, a democracia brasileira fica como a venezuelana, que passou muito tempo como uma nação de um partido de um lado só. A hipótese de fusão com o PSDB está fora da ordem do dia do DEM.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que o PSDB perdeu, até certo ponto, o rumo. O senhor pensa da mesma maneira?
Não acho que o PSDB esteja sem rumo, ele está precisando se reencontrar. O PSDB é outro partido que, como nós, tem história. O que é preciso é o partido se reencontrar com sua história. O PSDB tem de se reencontrar com a formulação programática que deu os ganhos que o Brasil teve com o governo Fernando Henrique Cardoso/Marco Maciel.
E o que fez o PSDB se desencontrar?
Fica difícil fazer uma avaliação crítica de um parceiro, mas vamos lá. Nas campanhas eleitorais, o PSDB, e isso é uma crítica feita de modo geral, permitiu que transformassem o processo de privatização em uma coisa demonizada, quando na verdade foi importante. Em um dado momento, o PSDB intimidou-se da necessidade de defender a modernidade frente à caridade defendida pelo PT. Esse foi um erro cometido.
Quem é hoje o maior inimigo do DEM? É o PT da presidente Dilma Rousseff ou o PSD do prefeito Gilberto Kassab?
São as ideias atrasadas. Eu acho que o tamanho gigante da máquina pública, o gasto público desmesurado, a carga de impostos incivilizada, esses são os nossos grandes inimigos. E é claro que o PT defende isso tudo. O PT pratica isso. O PT e todos aqueles que dão guarida ao PT.
Como ficaram as relações do partido com os ex-filiados que migraram para o PSD?
São civilizadas, mas eles pra lá e nós pra cá.
Há a hipótese do DEM fazer alianças regionais ou nacionais com o PSD?
O PSD é um partido feito por pessoas que não têm uma história. O DEM tem uma história. Na hora que fizermos uma aliança com o PSD, nós estaremos emprestando nossa história a quem não tem história.
Então não há possibilidade de o DEM apoiar em São Paulo uma aliança que inclua o PSD?
Não posso falar sobre fatos que vão acontecer no ano que entra, mas não está nas nossas cogitações.
Como o DEM pretende recuperar o espaço perdido nas eleições municipais de 2012?
O DEM não tem atualmente nenhum prefeito nas capitais brasileiras, mas nós temos candidatos fortes em Aracaju, em Campo Grande, em Salvador, em Recife e em Fortaleza. Então, nós entramos na disputa municipal de 2012 com uma chance de sermos bem maiores do que somos hoje. A expectativa do partido para as eleições municipais, considerado o quadro que existe hoje, é de franco crescimento.
Os partidos de oposição falharam no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff?
Eu acho que não falharam. Toda administração em começo de governo é muito forte. A oposição tem feito seu papel. Agora, infelizmente, nós não temos mais um número suficiente de parlamentares para instalarmos Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). E o governo federal tem conseguido, apesar de tudo, com o número que dispõe, evitar processos efetivos de investigação. As demissões ministeriais têm ocorrido por pressão da imprensa, da oposição e da opinião pública, nunca por iniciativa do governo federal. Essa história de faxina é para inglês ver.
Fica difícil fazer uma avaliação crítica de um parceiro, mas vamos lá. Nas campanhas eleitorais, o PSDB, e isso é uma crítica feita de modo geral, permitiu que transformassem o processo de privatização em uma coisa demonizada, quando na verdade foi importante. Em um dado momento, o PSDB intimidou-se da necessidade de defender a modernidade frente à caridade defendida pelo PT. Esse foi um erro cometido.
Quem é hoje o maior inimigo do DEM? É o PT da presidente Dilma Rousseff ou o PSD do prefeito Gilberto Kassab?
São as ideias atrasadas. Eu acho que o tamanho gigante da máquina pública, o gasto público desmesurado, a carga de impostos incivilizada, esses são os nossos grandes inimigos. E é claro que o PT defende isso tudo. O PT pratica isso. O PT e todos aqueles que dão guarida ao PT.
Como ficaram as relações do partido com os ex-filiados que migraram para o PSD?
São civilizadas, mas eles pra lá e nós pra cá.
Há a hipótese do DEM fazer alianças regionais ou nacionais com o PSD?
O PSD é um partido feito por pessoas que não têm uma história. O DEM tem uma história. Na hora que fizermos uma aliança com o PSD, nós estaremos emprestando nossa história a quem não tem história.
Então não há possibilidade de o DEM apoiar em São Paulo uma aliança que inclua o PSD?
Não posso falar sobre fatos que vão acontecer no ano que entra, mas não está nas nossas cogitações.
Como o DEM pretende recuperar o espaço perdido nas eleições municipais de 2012?
O DEM não tem atualmente nenhum prefeito nas capitais brasileiras, mas nós temos candidatos fortes em Aracaju, em Campo Grande, em Salvador, em Recife e em Fortaleza. Então, nós entramos na disputa municipal de 2012 com uma chance de sermos bem maiores do que somos hoje. A expectativa do partido para as eleições municipais, considerado o quadro que existe hoje, é de franco crescimento.
Os partidos de oposição falharam no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff?
Eu acho que não falharam. Toda administração em começo de governo é muito forte. A oposição tem feito seu papel. Agora, infelizmente, nós não temos mais um número suficiente de parlamentares para instalarmos Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). E o governo federal tem conseguido, apesar de tudo, com o número que dispõe, evitar processos efetivos de investigação. As demissões ministeriais têm ocorrido por pressão da imprensa, da oposição e da opinião pública, nunca por iniciativa do governo federal. Essa história de faxina é para inglês ver.
O que o DEM defende em uma provável reforma ministerial?
Um presidente que tem quase quarenta ministérios não tem oportunidade de despachar com todos os ministros. Do ponto de vista administrativo, é impossível conduzir a ação de uma nação sem a interlocução do comandante com aqueles que têm a obrigação de transmitir as suas ordens. Não há relação pessoal, não há comunicação. Eu acho que vinte ministérios já seria um número mais do que suficiente.
O DEM leva realmente a sério a hipótese de uma candidatura própria em 2014 para a sucessão presidencial?
É claro que é para valer. Um partido com a história do DEM não pode perder de vista a perspectiva de participar de eleições presidenciais. A meta do partido, de forma muito pragmática, é crescer em 2012. Se nós crescermos nas eleições municipais, se crescermos no plano congressual, é evidente que nós teremos condições de disputar uma eleição presidencial. A nossa interlocução preferencial é com o PSDB, mas não é compulsória. Nós temos a obrigação de buscarmos os caminhos do nosso crescimento e, mais na frente, vamos avaliar as conveniências partidárias para termos alianças ou não.
Um presidente que tem quase quarenta ministérios não tem oportunidade de despachar com todos os ministros. Do ponto de vista administrativo, é impossível conduzir a ação de uma nação sem a interlocução do comandante com aqueles que têm a obrigação de transmitir as suas ordens. Não há relação pessoal, não há comunicação. Eu acho que vinte ministérios já seria um número mais do que suficiente.
O DEM leva realmente a sério a hipótese de uma candidatura própria em 2014 para a sucessão presidencial?
É claro que é para valer. Um partido com a história do DEM não pode perder de vista a perspectiva de participar de eleições presidenciais. A meta do partido, de forma muito pragmática, é crescer em 2012. Se nós crescermos nas eleições municipais, se crescermos no plano congressual, é evidente que nós teremos condições de disputar uma eleição presidencial. A nossa interlocução preferencial é com o PSDB, mas não é compulsória. Nós temos a obrigação de buscarmos os caminhos do nosso crescimento e, mais na frente, vamos avaliar as conveniências partidárias para termos alianças ou não.
O senhor considera desgastada a atual polarização entre PT e PSDB no plano nacional?
Os fatos estão mostrando que, dentro da própria base do governo federal, há o surgimento de pretensões novas. A aliança do PSB com o PSD em torno do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a posição do PMDB de luta por hegemonia mostram claramente que esses partidos têm pretensões e que, na hora certa, essas pretensões vão ser colocadas na mesa.
Os fatos estão mostrando que, dentro da própria base do governo federal, há o surgimento de pretensões novas. A aliança do PSB com o PSD em torno do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a posição do PMDB de luta por hegemonia mostram claramente que esses partidos têm pretensões e que, na hora certa, essas pretensões vão ser colocadas na mesa.
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